quarta-feira, julho 23, 2014

E o Torrão fica para trás... como sempre?

Há algumas semanas o gabinete de propaganda da Câmara Municipal de Alcácer do Sal estava eufórico e excitadíssimo e debitava cá para fora a notícia de que o presidente Vitor Proença havia participado na cerimónia de assinatura de contratos de financiamento referentes a projectos de património cultural tendo o evento contado com a presença dos Secretários de Estado do Desenvolvimento Regional e da Cultura.
O motivo de tanta excitação prendia-se com o facto de irem ser desenvolvidos dezasseis novos projectos na área do património cultural no Alentejo, um investimento que ronda os 12,5 milhões de euros e que conta com comparticipação de fundos europeus da ordem dos 10,2 milhões euros e que um dos monumentos contemplados, com vista à sua recuperação, é a Torre do Relógio de Alcácer do Sal.
Perante tal coisa impunha-se a inevitável pergunta: E a igreja Matriz do Torrão - sabendo-se o bonito estado em que se encontra e que há décadas não é arranjada - não é contemplada?
Da Torre do Relógio de Alcácer tratou-se de arranjar financiamento já da Igreja do Torrão...





 Imagens interiores e exteriores da Igreja Matriz do Torrão

Ora, e ao que tudo indica, o mesmo fundo do INALENTEJO que tanta euforia causou ali para os lados da Praça Pedro Nunes, está já ser aproveitado aqui ao lado, nas Alcáçovas. Pelos vistos, também esta localidade, ao que tudo indica, antecipou-se ao Torrão com as obras de conservação e restauro da sua igreja matriz a arrancarem no passado dia 16 e que contam com o apoio em 90% do valor total da empreitada (sem IVA) que é de 149.511 euros. O restauro vai ser de fundo e prevê-se que a obra dure 10 meses.

Igreja da Matriz das Alcáçovas

Ora a igreja das Alcáçovas nem se compara à igreja do Torrão em termos de conservação estando esta última muito mais degradada. Foi aliás isto que eu verifiquei in loco em Outubro de 2012. 


Interior da igreja matriz das Alcáçovas

Nem uma fissura no interior - ao contrário da igreja do Torrão - tudo imaculadamente limpo e asseado; por fora a degradação não é tão evidente como no caso do monumento torranense, parecendo carecer apenas de uma pintura. Foi pois com relativa admiração e alguma estupefação que tomei conhecimento das obras de conservação ali levadas a cabo, e mais ainda, com a dimensão destas.

Várias perguntas coloquei então no artigo que fiz há quase dois anos e se estas se mantêm actuais agora ainda se tornam mais inquietantes. 
As óbivas, incómodas e necessárias questões eram então:

Como pode ser tão grande a diferença entre ambos os monumentos? Como é que se justificam tão abissais diferenças? Como pode uma igreja - ambas matrizes - estar tão acarinhada, preservada, limpa e outra, qual parente pobre, qual patinho feio, suja, altamente degradada, bafienta, notoriamente abandonada, notoriamente desprezada e tudo o mais que as imagens mostram? Estamos a falar de duas localidades que distam entre si apenas 14Km e que são ambas povoações muito similares e com características idênticas?

Quem são os responsáveis em ambos os casos pela imponência de uma e pelo ocaso de outra?

Paróquia? Autarquias? Populações? Estados de alma? Quem ou o quê?

A estas acrescento agora, afinal o que tem as Alcáçovas que não tem o Torrão?
O mais curioso de todos os factores que aparentemente inviabilizam as obras na igreja do Torrão é o famoso/famigerado IGESPAR (que já não se chama assim mas que os nossos brilhantes «líderes» insistem em chamar) que bloqueia as obras e que alegadamente apenas permite que a pintura seja feita com cal.
Ora perante tal apetece mesmo perguntar: Então a torre em Alcácer pode ser restaurada, a igreja das Alcáçovas idem, todas as outras em redor também estão cuidadas, o que tem a igreja do Torrão de especial e precioso para ser intocável?
Ora é bom de ver que das duas uma: ou esta gente é frouxa a defender os interesses e o património do Torrão ou são incompetentes ou pura e simplesmente estão-se nas tintas e encolhem os ombros alegando que a dita entidade não quer ali mexidas, assim à laia de pretexto.

Posto isto tudo, vamos agora ver os próximos capítulos da triste história do Torrão que fica sempre para trás enquanto as localidades vizinhas se antecipam e logram conseguir salvaguardar os seus interesses. Perante isto, e se entretanto nada for feito, é lícito perguntar: Ainda vamos confiar nesta gente, os do costume durante décadas, do vira o disco e toca o mesmo, que já provou a sua infinita incompetência e subserviência ou vamos apostar e criar condições para que surja algo completamente novo?

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