sexta-feira, agosto 01, 2014

Arqueólogos precisam-se

A Câmara Municipal de Alcácer do Sal, em reunião de executivo, na passada semana, contemplou na sua milésima prestação de serviços, por ajuste directo claro está, a aquisição de mais uma arqueóloga, coisa que pelos vistos e pelo que disse o presidente, estava mesmo a fazer falta à câmara tendo sido mesmo «recomendação superior».
Ora isto da arqueologia pelos vistos tem também muito que se lhe diga e vai daí é imperioso que também este negócio esteja entregue à família e se no passado era a família política que tinha peso, na CDU, mais pragmática e prática, os laços de sangue falam ainda mais alto. «Mas é de Alcácer», dizia e tentava justificar-se, bastante comprometido, o senhor presidente pois passou grande parte da reunião a falar tão baixinho que se custava a ouvir nas filas de trás. Pois, é de Alcácer mas calha sempre aos mesmos. Ele há coincidências...
Não adianta atirar areia para os olhos. Esta gente toda ela é especialista nisto e todos tentam o mesmo truque. Nem nesse aspecto há inovação.
Mas voltando atrás, e vistas bem as coisas, a autarquia alcacerense estava mesmo a precisar de um elemento para a arqueologia senão vejamos algumas estações arqueológicas no Torrão:

O Monte da Tumba

Estas fotos que nos chegaram ás mãos mostram tudo. 
Rezam as crónicas que um ex-polícia belga resolveu, no início dos anos 80, comprar um terreno para fazer uma casa de férias. No decurso da abertura das fundações surge o achado arqueológico. Diz quem sabe que foi paga uma fortuna ao homem. Fez-se a escavação em 1985, o espólio não está no Torrão e desde então o sítio está ao abandono. Dizia-se que se ia demolir a casa para escavar por baixo e no fim de contas nem a casa foi demolida nem o homem ficou com ela. Tivessem escavado e elaborado um protocolo com a pessoa no sentido desta se comprometer a ajudar a manter o espaço e a facilitar a entrada de visitantes enquanto as instituições públicas se comprometiam em dar a sua quota-parte de ajuda, poupava-se dinheiro com a expropriação, o local tinha outra qualidade e toda a gente ficaria a ganhar e assim é o que se vê. Tem sido bom é para as corujas, pardais e andorinhas que ali encontram um refúgio seguro para nidificar.











 A estação arqueológica do Monte da Tumba, próximo do Torrão, tem estado neste estado desde meados dos anos 80. A grande obra que ali se fez recentemente foi colocar um portão para vedar a entrada. De certa maneira compreende-se. Ajuda a preservar um pouco o espaço e evita visitas indesejadas



O Castelo

Também em 1985, ano de ouro das escavações arqueológicas no Torrão, fez-se uma escavação arqueológica junto ao depósito da água tendo sido encontradas as fundações do antigo castelo ou torre que supostamente terá dado nome ao Torrão. Também se encontrou um espólio mas também esse desapareceu e ao certo poucos ou nenhuns torranenses sabem o que ali se encontrou. Entretanto o local foi abandonado e com o passar do tempo tudo voltou a ficar enterrado.
Já em 1987 ou 1988, desgraçadamente alguém mandou abater duas oliveiras centenárias, que faziam parte da heráldica antiga da vila do Torrão, que se encontravam próximo do local para o local ser escavado. Derrubaram as oliveiras de valor único e nada foi escavado. 
Mas mesmo que fosse, as oliveiras podiam ficar à mesma que certamente não atrapalhariam o que quer que fosse. Para além disso, como eram árvores frondosas, davam sombra e azeitona a quem a quisesse ir apanhar. É esta a «boa gente» que tem governado este local mal frequentado. Os mesmos de sempre com os resultados de décadas à vista.









 Neste local havia uma escavação arqueológica. Não parece mas havia.





 O tal local que era para ser escavado, onde estavam as oliveiras que entretanto foram abatidas sem dó nem piedade no final dos anos oitenta. Quem teria sido o génio que teve tão «brilhante» ideia?



 Nestas réguas, mandadas fazer nos anos oitenta, pela Junta de Freguesia do Torrão, é bem visível o brasão que então se usava com a oliveira por trás do castelo (ou torreão) a figurar na simbologia heráldica. O actual brasão da freguesia do Torrão foi elaborado em 1995.


O Centro Escolar do Torrão


O caso mais recente é o do Centro Escolar do Torrão. Há muito que se sabia que ali existiam vestígios de outras épocas pois alguns estavam à superfície e muita coisa foi encontrada quando se construiram as casas na zona, nos anos 30.
Quando se começou a escavar o terreno para implementar a infraestrutura apareceram mais vestígios, o projecto inicial foi alterado, o que custou umas boas dezenas (ou centenas) de milhar de euros a mais e no final de contas as escavações nunca mais foram retomadas e o que se achou está como nos outros locais aqui sublinhados: abandonadas e em degradação progressiva.
«Tudo leva a crer que está ali um potencial novo Monte da Tumba», dizia-se aqui, faz em Novembro três anos. E, mais uma vez, não nos enganamos ou não soubéssemos nós o que a casa gasta.
Ainda se fez alarde, que se tinha encontrado um painel de mosaico «único» e de «grande riqueza» e no final o mosaico «único» foi entretanto de novo enterrado com o passar do tempo. Encontraram-se ali também esqueletos humanos. Levaram os restos das pessoas que ali tinham sido colocadas há 15 ou 20 séculos atrás, que era para estudo e no entanto nem estudo nem restos mortais. Séculos depois estas infelizes pessoas não mereciam este tratamento. Deixassem ficar tudo como estava. E assim se faz arqueologia no concelho de Alcácer - e na freguesia do Torrão - como aliás tudo o resto.
 Vai ficar assim? Acabassem a escavação e requalificassem o local. Mas não me parece. Também nesta área o Torrão tem aquilo que merece... e que faz por merecer.







Uma «ilha», um baldio, uma «terra de ninguém» dentro do recinto do Centro Escolar do Torrão



E já nem vamos falar do Museu Municipal (nem de outras...), em Alcácer do Sal, que começou a ser escavado em 2009 e desde então está de portas encerradas à espera de melhores dias. 





Resumindo e concluindo, no passado justificou-se o abandono destas estações arqueológicas com a falta de pessoal para escavar - é esse o pretexto. Lacuna que até era relativamente fácil de resolver. Mas, e partindo do princípio que existe essa lacuna intransponível e que há falta de gente para escavar pergunta-se então: qual a importância de mais um arqueólogo? Ou, dito de outra forma, assim sendo vai-se contratar uma arqueóloga para quê?
Bem, é elementar, meu caro leitor.

Sem comentários: