domingo, setembro 28, 2014

CARTAS DE BRUXELAS: Pensamentos manhosos


Pensamentos manhosos
Por: Jorge Mendes

Convidou-me o Paulo Selão para escrever algo semanalmente para o seu Blog Pedra no Chinelo e foi com um enorme prazer que aceitei e aliás me senti honrado pelo convite e irei fazer tudo para não desmerecer a confiança. Tudo o que digo, faço e escrevo não tem pretensões de espécie alguma a não ser exprimir o meu ponto de vista que valerá o que vale. Primeiro pensei que não merecia a oportunidade mas depois comecei a ver tanta gente a escrever, que comprou os diplomas que pensei: Se o Sócrates e o Relvas escrevem, entre o comprar e o não ter, não existe diferença alguma e vai daí... cá estou.
Nesta minha primeira abordagem veio-me de repente aos neurónios o poder local em Portugal. Já repararam que salvo raríssimas excepções o poder local em Portugal é exercido por pessoas que vêm de sítios distantes? Faz-me lembrar a minha mocidade que quando havia baile no Torrão e na Quinta de Baixo ou em Vale Paraíso ou em Odivelas ou mesmo Alcácer, a gente pirava-se nas motorizadas para lá e os de lá vinham para cá. É que lá não nos conheciam e vai daí pintávamos a manta à nossa vontade. Pode parecer estranha a comparação mas é a imagem que me vem à cabeça.
Mas alguém se convence que um tipo que cai de paraquedas, ainda que não seja de muito longe pode, num razoável período de tempo, perceber o sentir, o passado, as tradições e as aspirações de futuro de toda uma comunidade? Claro que não, e vai daí que acontece? Quando começa a perceber um pouco está na hora de ir pregar para outra freguesia. Alguma vez nos últimos 40 anos se ouviu alguém dizer: para atingir o que a população deseja no futuro, eu proponho este caminho que penso nos leva lá em X de tempo mais ou menos? Claro que não. Ouve-se falar no Projecto do Partido A, B, C, que será o projecto a “impôr” a quem votar em mim.
As populações têem de deixar de votar nos projectos de A, B ou C mas sim nas pessoas que creiam capazes de realizar o próprio projecto da população. Ah e tal mas as populações não têem projectos. Claro que têem e curiosamente são todos iguais em todos os Concelhos e Freguesias deste País e que são: Paz, Pão, Trabalho e Educação como diz o Sérgio Godinho na sua cantiga. Como é que é possível alguém votar numa pessoa que pelo menos não garanta que lutará por tudo isto? Mas dirão vocês: Então mas assim não votamos em ninguém! Ora bem, desenrasquem-se e pensem. Não tenham preguiça de pensar e de sonhar. Uma terra com trabalho para todos, onde os filhos possam ir à escola, onde a assistência médica seja um direito, onde as famílias possam viver em conjunto, onde emigrar seja facultativo para aqueles tenham vontade de viver e experimentar outros modos de sociedade e não uma obrigação para fugir à pobreza e ao tédio. Reparem que todos os políticos dizem que o interior será uma prioridade para eles e depois assim que chegam lá ao sítio, fecham as escolas, os hospitais, os serviços públicos etc.. etc.. Mas será que tem alguma lógica que alguém que morre no Torrão tenha, depois de morto, de fazer uma viagem de ida e volta de 200Km para poder descansar em paz? Em nome de quê ou quem? Claro que todos sabemos que há beneficiados porque se não houvessem também não havia a lei. Aqui veio-me à ideia quando noutros tempos a Fábrica de Braço de Prata fabricava e vendia armas a nós e aos que combatiam contra nós. Claro que os dos costume vão argumentar que é muito bonito dizer mas impossível fazer. Respondo eu: Se fazem meias de vidro para mulheres e agora até para homem e não se partem, onde está o impossível ?

 Uma boa semana para todos e pensem.

Jorge Mendes
Bruxelas, 25/09/2014

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