sexta-feira, janeiro 23, 2015

Grécia - o momento da verdade


O momento da verdade para todos aproxima-se e é já no Domingo naquela que é a pátria da democracia.
A Grécia de hoje é um país de contradições. Na verdade, os partidos tradicionais que têm governado o país sofrem de uma certa esquizofrenia e transtorno bipolar. Se por um lado não querem abandonar o Euro nem abdicar das suas vantagens por outro lado enjeitam as suas desvantagens e querem viver como sempre viveram. No fundo querem o melhor de dois mundos, sol na eira e chuva no nabal. Ao contrário dos restantes porquinhos (PIIGS), a Grécia faz batota e joga um jogo dúbio e no fio da navalha. A Grécia, que se dá ao luxo de pretender duplicar o número de deputados, a Grécia dos 14º, 15, 16, 17º mês, a Grécia do fakelaki, prática que consiste em ter que se pagar aos funcionários públicos para estes fazerem um determinado serviço, algo que no mundo é chamado suborno e corrupção na Grécia é tradição, onde ninguém se importa com o facto e até a maioria defende a prática, e por aí fora é a mesma que diz estar disposta a mudar. No fundo é como aquele doente que quer ser curado, quer ajuda para se curar mas não quer abandonar velhos hábitos nem velhos vícios e se é certo que a austeridade não é a panaceia universal, como aliás já reconheceu o FMI, também não deixa de ser verdade que há muitas culpas próprias.
Esta é a política dos partidos ditos moderados e responsáveis e com os quais a Europa parece dar-se bem.
Curiosamente o Syriza, o «partido extremista» e «irresponsável», por ironia é o mais sério e diz ao que vem e o que quer embora ainda assim diga mais ou menos o mesmo dos demais.
Se vencer, o pior para si será o day after e a sua vitória, por muito gorda que seja, pode no limite ser um Vitória de Pirro e ser a sua perdição.
Prometer, propôr, usar da retórica é fácil. O problema são os constrangimentos. Ninguém, nenhum Poder tem infinitos graus de liberdade e zero restrições. Uma vez no governo terá que se deparar com acordos anteriores, pressões e dilemas. A coisa não será fácil. Também não estou a ver o governo do Syriza a rasgar contratos e a mandar à fava os credores e continuar a beneficiar de empréstimos. Bem vemos por aí como muitos têm entradas de leão e saídas de cordeiro. Entram a prometer ruptura, mudança e depois nem no estilo diferem, completamente capturados, absorvidos pelo sistema acabando por ser mais do mesmo onde só mudam as caras.
O Syriza, se vencer - o que para mim seria bastante interessante e até torço para que vença - trará muitas luzes sobre várias realidades. A começar por si próprio; se conseguir e, mais importante, estiver determinado à ruptura que propõe estaremos perante algo completamente novo e incerto - não necessariamente mau. Porém, se não tiver uma liderança suficientemente forte, determinada e disposta a tudo enredar-se-à nas suas contradições, eclipsar-se-à e terá uma passagem meteórica pela política grega desaparecendo tão depressa como apareceu.
A Grécia vai ter que se definir e a Europa também. Viver de equívocos e querer algo e o seu oposto ao mesmo tempo não é nem sadio nem viável.
No fundo, são várias Espadas de Damocles. Cada um tem a sua e algumas irão certamente cair.
Resta saber como e quando o pêlo do cavalo vai partir.
O momento da verdade está aí para todos.
Domingo veremos.

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