terça-feira, janeiro 27, 2015

Vão ver-se gregos



Só quem anda desatento é que pode ter ficado surpreendido com os resultados vindos da Grécia e quem pensar que isto é um fenómeno passageiro desengane-se.
As eleições europeias de Maio foram um indicador de que as pessoas começam a ficar fartas dos mesmos políticos e políticas pífias de sempre. Não-lideranças, fraudes políticas, ignorantes, semi-analfabetos, gente incapaz, aventureiros da pior espécie.
Até agora têm vingado graças à ignorância geral mas lenta e gradualmente os cidadãos vão abrindo os olhos e duas tendências claras e inequívocas sobressaem: A abstenção ou a aposta em algo novo.
Todos aqueles que se insurgiam contra o status quo eram rotulados de populistas, demagogos, irresponsáveis, radicais, extremistas, etc enquanto eles, os partidos e políticos ditos tradicionais eram tidos por moderados, responsáveis, competentes, sérios como se só eles tivessem o monopólio da razão, da sabedoria e do bom-senso político. É o mesmo que fazer um juízo, naturalmente desonesto e arrogante, mas também parcial e subjectivo, de avaliação sobre as capacidades de outros cidadãos de darem o melhor ao seu país. No fundo, é o mesmo que fazer um tendencioso e descarado processo de intenções sobre o que se passa na cabeça de outros portugueses - tão bons, o que não é difícil, ou melhores do que eles - que querem exercer o direito de influenciar a organização política, económica, social e cultural do país seja não só ao nível do governo mas também ao nível dos concelhos e das freguesias e não limitarem-se apenas à condição de pagantes e votantes e nada mais.
Em lado algum está escrito que as condições de governabilidade ou as boas intenções de quem se candidata ao exercício de cargos públicos se esgota nas matrizes partidárias tradicionais - boa parte delas nascidas há mais de 100 anos, noutras circunstâncias e noutro contexto histórico e até civilizacional?
Estão à vista os bons resultados da suas políticas «responsáveis» e «racionais». Foi graças a elas que estamos onde estamos. Bravo! Irresponsáveis e ignorantes, isso sim.
A corja rendeira, os comensais dos regimes - PS e PSD com CDS na retranca mas também PCP, até porque detém boa parte das câmaras do país, mas também o BE, isto em Portugal - os tais que se assumem como responsáveis levaram países como Portugal (ou a Grécia, no caso o PS e PSD locais, isto é, o PASOK e a Nova Democracia) ao fundo com as suas políticas «responsáveis». Imagine-se se fossem irresponsáveis. Imagine-se!
Todos começamos a ficar fartos de um rotativismo bipartidário de virar o disco e tocar sempre a mesma música roufenha seja a que nível for, sejam os protagonistas quem eles forem. É preciso adicionar factores novos e desconhecidos na equação, na fórmula e ver o que sai dali. Experimentar.
Também em Portugal o fenómeno já começou. Atente-se nas últimas eleições autárquicas onde os movimentos independentes cresceram exponencialmente e onde, contra todas as expectativas, conquistaram inclusive a segunda maior câmara do país - o Porto. Também ao nível dos concelhos estamos a ficar fartos de uma falsa democracia, da dança de cadeiras entre os mesmos de sempre, de um bipartidarismo local.
Uma coisa é certa: Isto não ficará por aqui. É preciso começar a combater este sistema corrupto e podre, de compadrios, exclusivista onde só a família e os amigalhaços têm hipótese enquanto em todo o lado gente válida em diversas áreas é posta de lado, excluída, mandada para o desemprego e ainda estigmatizada pelos oportunistas de serviço como sendo eles os culpados, os que não trabalham porque não querem, isto se, por qualquer motivo, não emigrarem. Um sistema onde até para varrer ruas é preciso ter os «amigos certos». 
É preciso escolher líderes e pessoas que não façam dos cargos públicos um modo de vida, gente que tem como profissão por exemplo ser presidentes de câmara, autênticos salta-pocinhas, saltitando de câmara para câmara, fazendo desse exercício - por sinal extraordinariamente bem pago - um emprego. É preciso escolher gente que se identifique com o território que pretende administrar e não aves de arribação que vêm para poisar no poleiro mais alto, sujar os que estão em baixo cagando tudo à sua volta, grasnando alto e bom som e quando acabarem os recursos voarem para outras paragens desaparecendo tão rapidamente como apareceram sem que nunca mais alguém os veja ou oiça falar deles os quais serão bem recompensados por terem estado ao serviço de tudo menos daqueles que supostamente deveriam servir. É preciso ter cuidado e apostar em gente que quer servir o bem-comum e não gente egoísta e mesquinha que apenas se querem servir a si e aos amigalhaços. É preciso apostar em gente nova, descomprometida, válida. É fundamental elevar ao poder gente que não dependa de uma clientela voraz e incompetente que tudo ocupe, tudo coma e que não está disposta a dar a mínima hipótese a outsiders. É imperioso acabar com o parasitismo político que tudo seca à sua volta! É preciso apostar em gente válida, bem formada tanto a nível pessoal como a nível académico em todos os níveis administrativos e ir mudando o poder; o poder local, nacional e europeu.
As coisas já começaram a mudar e não ficarão por aqui. Desenganem-se também aqueles que pensarem que com a vitória do SYRIZA na Grécia, isto é uma viragem à esquerda e um abraço ao comunismo. Não é! Isto não é uma questão ideológica e tanto assim é que o SYRIZA, dito de extrema esquerda, não está com meias medidas e coliga-se com um partido de direita e independentista. Na Grécia foi o SYRIZA mas podia ser outro qualquer, na França pode bem ser a frente Nacional (direita), no Reino Unido, o UKIP de Nigel Farange e por aí fora.
As pessoas querem alternativas e uma mudança real e efectiva e não canalha política, fraudes e embustes políticos que prometem mudança, mundos e fundos e depois nem no estilo marcam a diferença, subjugados e capturados limitando-se a uma existência patética e cobarde esperando não haver tempestades no horizonte. As pessoas querem gente descomprometida com o passado e estão dispostas a pagar para ver. Podem ser de esquerda, de direita, do centro, comunistas, nacionalistas, ecologistas ou mesmo independentes - sim, independentes. As pessoas querem alternativas válidas, outros discursos outras caras e não as carrancas e as famílias de sempre muito menos ideologias em que grande parte delas estão ultrapassadas. Nem é preciso ir à Grécia. Basta ficarmos pelas nossas freguesias e observar.
O século XXI é o século da cidadania. Blogs, redes sociais, internet permitem pela primeira vez que todos estejamos interligados. Já não somos ilhas isoladas. Hoje partilhamos ideias e pensamentos de pessoas de todo o lado e de todos as classes sociais. Hoje, já não são os chamados fazedores de opinião, a grande maioria deles a soldo dos do costume, outros com agenda própria, que manipulam a opinião pública.
O futuro está aí ao virar da esquina! Só com vozes verdadeiramente independentes, que não têm que obedecer a uma cartilha e a uma disciplina partidária, ou descomprometidas que representem verdadeiramente os cidadãos e os empresários laboriosos dos concelhos, dos países ou da Europa, podemos começar a ambicionar mudar o regime e forçar as elites dominantes e corruptas a ceder espaço e desaparecer de cena como aliás aconteceu na Grécia. É preciso remover o lixo político e colocá-lo no seu devido local, isto é, na lixeira. Há que fazer uma limpeza geral e fazer jus ao slogan «Deite o lixo no lixo».
Acabou! Nós vamos chegar lá. É só uma questão de tempo.
Vão pondo as barbas de molho!

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