segunda-feira, março 09, 2015

Venha a Alcácer comer uma tiborna




A Câmara Municipal de Alcácer do Sal esteve presente na edição de 2015 da BTL. Até aqui tudo muito bem pois se há montra por excelência onde se pode fazer divulgação, esta é sem dúvida o referido certame e se houve um aspecto positivo a reter foi o facto da Feira Renascentista, que irá ter lugar no fim de Maio no Torrão, ser divulgada e pouco mais.
Ora é bom de ver que Alcácer do Sal estava ali com a fina-flor do turismo nacional (Algarve, Minho, Madeira...) e internacional pois também estiveram presentes o Brasil, Angola, Perú, etc.
A presença num evento desta natureza exige que todos os que lá vão primeiro façam o trabalho de casa, isto é, primeiro «arrumem a casa» e depois convidem as pessoas a visitá-la. Convém.
Ora no caso de Alcácer do Sal, não creio que a casa esteja assim lá muito bem arrumada. Basta ver as ruas das localidades do concelho. Esburacadas, com vomitado e excrementos de cão, edifícios arruinados - sim, a maioria privados e portanto o município nada pode fazer - património desprezado, nomeadamente no Torrão, um Museu Municipal de portas fechadas há quase dez anos e por aí a fora. De salientar contudo alguns monumentos que merecem ser visitados bem como a Cripta Arqueológica, os quais penso que foram devidamente divulgados - nem ponho outra hipótese! 
Portanto quem se dignar a visitar este concelho no mínimo irá ficar desiludido e, já se sabe, é melhor calar do que propagandear aos quatro ventos e aqueles que cá vierem atraídos jurem para nunca mais. E já nem falo na imagem que passarão.
Se há pontos fortes que merecem ser vincados são pois o património natural, a gastronomia e a produção vinícola.
Não estive lá, não posso precisar o que se fez e o que se deixou de fazer. Ponto assente. Porém, e como foi feito alarde na página oficial do município, no Facebook - embora curiosamente algumas publicações tivessem desaparecido - então a minha opinião ficará legitimada pelo descrito sendo que se a opinião for injusta então é porque não se soube divulgar a coisa em condições e assim das duas uma: ou tudo foi devidamente divulgado em Lisboa e no Facebook e a descrição foi paupérima ou então o que está na rede social foi aquilo que efectivamente se passou. Seja como for, a meu ver houve amadorismo e estou mais inclinado para a segunda hipótese.
Estando a falar de divulgação, era imperioso que esta se estendesse no Facebook e fosse exaustiva tanto em fotografia como em descrição e tudo e todos os que estiveram presentes fossem devidamente noticiados.
Ora o concelho de Alcácer do Sal esteve com a elite do turismo nacional e internacional e portanto tinha que «atacar» com a «artilharia pesada»; levar tudo o que houvesse para levar. Divulgar o mais possível a gastronomia pois esse é o ponto forte que há para apresentar. Ora não me parece que foi isso que aconteceu e que a aposta forte, o trunfo que sacaram da manga foi... a tiborna, coisa que já tinham apresentado na feira do Torrão, como se o novo poder que se instalou em 2013 tivesse descoberto a pólvora. Se há aqui quem descobriu a tiborna foram suas excelências pois que esta é conhecida por todos nestas bandas. Ora a coisa consiste em pedaços de pão quente acabado de sair do forno regados com azeite e polvilhados com esse típico produto local, produzido aqui em grandes quantidades e mundialmente conhecido, que é o açúcar amarelo.
Mas vamos lá a ver, como disse, não há coisa pior que a desilusão. Ora quem vier a Alcácer atraído pelo cheiro da tiborna vai ter uma tremenda desilusão pela simples razão de que não há tiborna à venda em lado nenhum; nenhum restaurante serve tiborna. E porquê?
Porque a tiborna é confeccionada com pão quente, acabado de sair do forno. Ora como é bom de ver, este pequeno pormenor condiciona a presença da iguaria à mesa mas ninguém se lembrou. 
Pior, se o pão, ainda que fresco, estiver frio já a coisa não sabe bem e se este então for velho então a coisa fica intragável. Ora como parece que não havia forno no pavilhão imagino a tibornada...
E depois, a tiborna não é apenas uma especialidade local, é algo conhecido em todo o Alentejo, incluindo Olivença, portuguesa de direito mas ocupada por Espanha há duzentos anos. E longe de ser uma novidade, a coisa é conhecida há anos e é inclusive recomendada pelos benefícios para a saúde - desde que não se abuse (especialmente do açúcar ou do sal) como se pode ver nesta publicação do Correio da Manhã, já com dez anos. Não, ninguém «descobriu a pólvora».

Podendo-se invocar dificuldades logísticas, de espaço, etc, poder-se-á dizer que não havia espaço para divulgar todos os produtos. Este argumentário poderá servir para justificar a presença de uns em detrimento de outros. Pergunta-se - as tais perguntas que ninguém faz:


  • Estiveram os produtos mais emblemáticos do concelho de Alcácer do Sal devidamente representados na BTL?
  • A Câmara Municipal contactou todos de igual modo em todos os sectores no sentido de dar conhecimento de causa e convidando estes a estarem presentes se assim o entendessem?
  • E contactando apenas alguns ou na impossibilidade de todos os produtos mais emblemáticos estarem presentes, que critérios nortearam a escolha?
Fiquemos por aqui.
Vamos começar pelo o óbvio:
O sal. Sendo Alcácer, do sal, pergunta-se: esteve o sal ou a flor-de-sal, de Alcácer representado ou já não há salinas em Alcácer?
Se há, não deveria ter estado presente nem que fosse para temperar a tiborna? Se esteve não apareceu nas fotos e se se temperou a tiborna com o dito, nada foi mencionado nas fotos que dão conta da prova da dita cuja,

Pinhão e mel: É certo que a pinhoada esteve presente pois apareceram fotos da especialidade. Esta é que é a especialidade de Alcácer. Infelizmente o fabrico ainda é artesanal e a pinhoada, que por ter um tempo de validade considerável, podia ser exportada para todo o mundo, fica-se por alguns cafés da zona. NEM AO TORRÃO, QUE DISTA 37 KM, ESTA CHEGA!!!
Em todo o país é conhecido o queijo da serra, a queijada de Sintra, o pastel de Belém, só para dar alguns exemplos, mas a pinhoada de Alcácer é uma ilustre desconhecida.
Era uma boa oportunidade para puxar pela coisa.





E individualmente, estiveram presentes o pinhão e o mel? Foram convidados os apicultores do concelho?
Não ficaria engraçado se estivessem lá também expostos alguns instrumentos ligados à apicultura?
Houve provas de mel e pinhoada como houve de tiborna?

Pratos locais: Mais uma vez se pergunta: foi enviada informação e convite a todos os restaurantes? Se não, qual o critério para uns terem sido convidados e outros não?
Arroz de lingueirão, choco frito, enguias fritas e ensopado de enguias são pratos típicos. Por acaso estiveram presentes ou só marcou presença a tiborna?

Ervas aromáticas, tuberas, azeitonas... estiveram presentes? Atenção que há quem faça tiborna temperada com orégãos. Tibornas há muitas!

Batata-doce: A batata-doce da Carrasqueira tem imensa qualidade e a batata-doce em si é riquíssima em termos nutricionais. Os atletas de alta competição não a dispensam e mesmo no meio do fitness é a fonte de hidratos de carbono por excelência - pessoalmente, não prescindo dela na minha dieta.
Infelizmente, esta não é dada a conhecer. De referir que se realiza inclusive a Festa da Batata-Doce na Carrasqueira. O anterior executivo liderado por Pedro Paredes recusava-se - e mal - a apoiar a festa e o que o PCP barafustava e arregimentava gente para ir inclusive às assembleias municipais para se insurgirem contra tal. Agora que é poder, o que é que efectivamente têm feito em prol dos produtores de batata-doce? Convidaram-nos para estarem na BTL?
Não estiveram lá com a sua produção? Não deveria ter havido prova de batata-doce? Depois da tiborna dava-se a provar a dita como sobremesa.

Doçaria: Houve quem estivesse presente e houve quem se tivesse lamentado nas redes sociais e a mim pessoalmente, que a Câmara nem se dignou a informar. Mais uma vez, quais os critérios para irem uns e não irem outros? Ou haverá bolos feitos por alguns que comidos depois da tiborna fazem azia?

Queijos: Sim, também em Alcácer do Sal há queijarias. Por acaso o queijo de Alcácer do Sal esteve presente?
Uma prova de queijo com tiborna - sem açúcar - fica detrás da orelha. E queijo fresco com mel? Uma maravilha! Mas se calhar a malta só come mcdonald's e o resto é para inglês ver, é um frete que se faz, decorrente de se estar devidamente instalado no edifício da Pedro Nunes. A malta deslumbra-se com tudo o que é anglo-saxónico e o que é local...
Sim, ele existe e é presença constante na minha mesa... fresco, claro. Está aqui. A questão é saber se esteve lá. Se esteve não se viu.






Guardei o melhor para o fim. Um deles o ingrediente principal da tiborna. Vamos começar pois pelo azeite. Houve provas de azeite - até porque houve de tiborna - o que mostra que o azeite foi de facto bem divulgado. Já os produtores de azeite... houve tratamento igual para todos? Pois o que se viu foi publicidade a uns e de outros... nem a cor. Por acaso o azeite da Cooperativa Agrícola dos Olivicultores do Torrão esteve presente? Alguém viu algum garrafão de azeite Xarraminha?
Bem, esta ostracização permanente e em particular o facto de tal não ter estado presente da BTL, para mim só tem uma explicação: O azeite Xarraminha não é bom para fazer tiborna ou então há quem não goste das tibornas feitas com o azeite da cooperativa. 
Mas deixem-me que lhes diga: o azeite da cooperativa também faz umas belas tibornas.










E por fim, o vinho.
Diga-se em abono da verdade que o vinho esteve presente mas curiosamente, só vimos uma prova de vinhos. A prova abrangeu somente os vinhos da Barrosinha, algo que foi divulgado mas depois, curiosamente desapareceu da página de Facebook.
Será que outros vinhos marcaram presença sabendo-se que este concelho é um concelho vinícola por excelência?
Se marcaram presença não os vimos. Por exemplo não vi os vinhos da Herdade da Comporta. Bem sei que a referida herdade era gerida pela Rioforte e que esta agora é mais Riofraco mas os vinhos esses continuam a ser fortes em termos de qualidade.
E os vinhos da Herdade do Porto Carro, no Torrão?
Ainda no ano passado o vinho Cavalo Maluco foi considerado, por especialistas de renome mundial, o melhor vinho tinto português na categoria acima dos 20€ como se pode ver aqui. Curiosamente, o facto até foi bastante explorado pela autarquia pelo que a não presença agora no certame não deixa de causar estranheza e ser contraditório.
E por fim, outro vinho que, pelo menos a avaliar pela falta de divulgação, é um ilustre desconhecido ali para os lados da Praça Pedro Nunes. Refiro-me os vinhos da Herdade das Soberanas, também no Torrão.
Também os vinhos das Soberanas são internacionalmente conhecidos e já foram inclusive premiados várias vezes em Portugal e no estrangeiro. Aqui podemos ver uma notícia referente ao facto.
Estranhamente também não se lhe viu a cor.
Houve provas de vinhos das Soberanas?
Houve provas de vinhos do Porto Carro?
Houve provas de vinhos da Comporta?
Ou só os vinhos da Barrosinha é que caem bem com a tiborna? 
Foram convidados todos os produtores de vinhos ou estes não quiseram marcar presença?
Se a representação do sector vinícola ficou apenas entregue à Barrosinha então esta foi tremendamente redutora pois embora os vinhos da Barrosinha sejam de qualidade superior, há mais vida para além da Barrosinha.
Assim não há tiborna que resista!

Resumindo e concluindo, até porque é hora de almoço e a prosa já vai longa, receio bem que o grande slogan e a grande conclusão que se pode tirar desta presença em Lisboa foi: 
VENHA A ALCÁCER COMER UMA TIBORNA!

Sem comentários: